quarta-feira, 16 de abril de 2014

Mais Médicos reestrutura atenção básica em município do semiárido paraibano


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Foto: arquivo pessoalFoto: arquivo pessoalSerra Grande (PB) é um município pequeno - de apenas 3.082 habitantes - a 456 quilômetros da capital paraibana João Pessoa e tem ao menos 20% da população em extrema pobreza. Sem médicos para fazer a atenção básica, a chegada do profissional cubano do programa Mais Médicos transformou a saúde local. Junto com a equipe de Saúde da Família, Dr. Miguel Toledo realizou três importantes ações: fez um rastreamento populacional; criou um modelo para nenhuma mulher com gravidez de risco ficar desassistida na hora do parto; e ajustou os pedidos de remédios de acordo com a necessidade da população.

“Hoje posso dizer que existe atenção primária em Serra Grande e que antes não existia”, assegura o secretario municipal de saúde, Vicente Cavalcante da Silva. O secretario explica que os médicos nunca tinham tempo para fazer a atenção básica, ir atrás dos pacientes e fazer um acompanhamento permanente, pois o tempo era somente para o atendimento ambulatorial. “Agora fazem palestras e trabalham a educação em saúde, coisa que não existia”, completa.

A agricultora aposentada Maria Pereira de Azevedo, de 71 anos, foi uma das beneficiadas com a chegada do médico e o trabalho recente da atenção básica. Há 33 anos, Maria desenvolveu feridas no pé que sumiam e depois reapareciam. A última tem sete anos que está aberta, formando uma úlcera. Ela passou por muitos lugares procurando tratamento, até que o Dr. Miguel pediu que ficasse um tempo na cidade para ter a ferida tratada, pois sozinha na zona rural não conseguia tratá-la adequadamente.
Depois de dois meses sendo acompanhada diariamente para refazer o curativo, Maria Pereira está curada e voltou para a zona rural. “Fiquei sete anos com úlcera de pé sem resolver. Não tive um acompanhamento como agora, com aquela dedicação. Não tinha um médico vendo todo dia. Tudo isso ajudou para que em dois meses, a ferida que tenho há sete anos ir finalmente embora”, relata a aposentada.

Rastreamento populacional - Ao saber que a maior causa de morte na população de Serra Grande era o infarto e o AVC, o Dr. Miguel verificou nos registros que apenas 11,6% da população estava com hipertensão. Como esse número é abaixo do apontado pelos estudos e pesquisas, ele desconfiou e saiu a campo com os agentes comunitários de saúde para diagnosticar quem estava com pressão alta. O rastreamento conseguiu identificar 9% a mais de hipertensos, o que ampliou para cerca de 20% o número de hipertensos no município.

Foto: Arquivo pessoalFoto: Arquivo pessoal“Isso melhora muito a saúde dessas pessoas, pois com o diagnóstico a pessoa terá um acompanhamento e o tratamento oportuno. Isso evita que ela piore e, consequentemente, terá uma vida mais longa. Podemos tratar os hipertensos, melhorando muito a qualidade de vida deles”, disse Dr. Miguel. A equipe de atenção básica também identificou diabéticos e outros doentes crônicos que precisam de acompanhamento.

Partograma – Para que nenhuma gestante em gravidez de risco ficasse sem leito na maternidade no dia do parto, o médico cubano mobilizou o gestor do município, que articulou com os gestores da saúde da região e até gestores estaduais para criar o “Partograma”. Eles mapearam as mulheres que terão filho em determinado mês e identificam as com gestação de risco.

A partir desse mapeamento, buscam-se vagas nas maternidades da região ou até fora dela. “Temos todas as grávidas monitoradas. Teve uma que chegou ao final da gestação com diabetes e consegui uma vaga em João Pessoa graças a toda essa parceria e a vontade dos gestores de atenção básica da Paraíba, e os apoiadores do Ministério da Saúde”, confirma o médico Miguel Toledo.

Com diabetes, anemia e sobrepeso, Damiana Alves Araújo, 34 anos, já sofreu um aborto e perdeu o bebê. Com a chegada do Dr. Miguel, ela faz um acompanhamento semanal no posto de saúde para medir a glicose. “Agora me sinto muito confiante porque se eu sentir alguma coisa posso ir lá e eles passam o remédio e me ajudam”, narra Damiana.

Reformulação dos medicamentos essenciais – Ao perceber que tinham remédios que não eram usados e faltavam outros que a população precisava, a equipe de saúde, com a liderança do Dr. Miguel, usou o cadastro que tinham feito no rastreamento da população e identificaram quantos e quais os remédios mais necessários.

Isso possibilitou que a licitação da compra desses medicamentos fosse feita de acordo com essa necessidade. “Não tínhamos colírios, por exemplo. E como a região é muito seca, muitos tinham problemas nos olhos ou respiratórios por causa do clima. E agora nós temos os medicamentos para tratar esses problemas”, explica o médico cubano.

Lucas Pordeus Leon / Blog da Saúde